Em meados de Junho os jacarandás de Lisboa estão em flor, a sua luz fende a pupila, acaricia o dorso da sombra. É então que – sei lá se pela última vez – a inocência volta a entrar na minha vida. Olhos, mãos, alma, tudo é novo – recomeço a prodigalizar alegria, uma alegria que não procura palavras porque o seu reino não é o da expressão. Digamos que esta nova experiência, a que não quero dar nome, não se preocupa em interrogar, talvez por já não ser tempo de dúvidas, ou então por não lhe dizerem respeito essas verdades últimas, cegas como facas.
Eugénio de Andrade . "Vertentes do Olhar" (1987)
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