terça-feira, 21 de abril de 2020

Lamentamos a perversidade que é abater árvores para fazer espaços verdes


Fotografias de R. Gama de algumas das árvores recentemente marcadas para abate na Praça de Espanha

Perante informação de que se prepara uma nova (1) e injustificada vaga de abate de árvores no âmbito das obras que decorrem na Praça de Espanha da responsabilidade da Câmara Municipal de Lisboa, esta Plataforma enviou o seguinte apelo ao presidente da CML:

Exmo. Senhor Presidente da CML 
Dr. Fernando Medina, 

Mais uma vez tomamos a liberdade de escrever a V. Exa. sobre as árvores da nossa cidade, desta feita sobre os abates na Praça de Espanha no âmbito das obras que ali decorrem. Lamentamos a perversidade que é abater árvores para fazer espaços verdes. O imprudente que é -  na crise climática que vivemos e quando se sabe que uma árvore jovem não proporciona os mesmos efeitos de árvores adultas - não adaptar os projectos, sobretudo projectos "verdes", às pré-existências. 

Isto é tanto mais importante quando sabemos já que muitas árvores jovens que têm sido plantadas pela CML no âmbito de projectos de requalificação não sobrevivem por falta de cuidados (basta consultar os abates previstos pela CML no mês de abril: árvores jovens que secaram) ou que os, menos frequentes, casos de transplantes, como neste caso da Pç. de Espanha, não vingam. 

A 3 de Março alertávamos V. Exa. por email dos abates de 40 árvores adultas e saudáveis (entre elas choupos, freixos, plátanos e rubíneas) e de 2 árvores de grande importância ecológica e patrimonial (um sobreiro e um ulmeiro com mais de 50 anos).

Ontem a  Plataforma foi avisada por uma munícipe de que se prepara nova empreitada de abate de 20 exemplares adultos (ver fotografias em anexo), ainda mais em plena época de nidificação. Embora sinalizadas para abate, o seu pré-aviso não se encontra no website da CML. 

O que vimos pedir a V. Exa. é que considere impedir este processo de abate e que envide diligências junto dos autores do projecto para uma solução que inclua estes exemplares no traçado. Torna-se cada vez mais desmotivador, preocupante e perigoso, verificarmos não só a crónica e completa discrepância entre o que é projectado e anunciado a 3-D com a realidade do pós-obra, como o facto de o cidadão comum se acabar por perder no "verde" de imagens virtuais, nunca sabendo quais as árvores que são na realidade para abater e quais as que são para preservar urgente que a CML tome a dianteira na necessidade que existe em corrigir e combater esta sistemática manipulação da opinião pública).

O que aqui pedimos, senhor Presidente, a ser aceite pela CML, não será novidade, uma vez que a CML já corrigiu projectos de paisagismo a pedido de munícipes, como foi o caso, muito recentemente, do não abate de choupos de grande porte junto ao cruzamento de Alcântara ou no Calvário com a preservação de uma antiga nespereira.

Em plena crise de saúde pública - e quando estudos científicos referem já a provável correlação entre a difusão do COVID-19 e a poluição do ar que favorece sua disseminação e aumenta a virulência da infecção, bem como o índice de mortalidade ser mais elevado em zonas poluídas - a preservação de árvores adultas é essencial, quando sabemos que são elas as principais responsáveis por filtrar a poluição e o CO2 (árvores jovens levarão sensivelmente duas décadas a fazê-lo na sua plenitude).

Assim, apelamos a V. Exa, senhor Presidente, para que impeça este abate de 20 árvores adultas e saudáveis, envidando esforços para a sua inclusão no projecto e nos informe sobre o número total de abates, transplantes e plantações desta empreitada.

(1)
Embora sem acesso a informação oficial, registamos que desde a sua aprovação este projecto que prevê a construção de um novo espaço verde na cidade de Lisboa já justificou o abate ou transplante de perto de uma centena de árvores adultas e saudáveis situação  que lamentamos profundamente.

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